sábado, 2 de abril de 2011

Portugal, queres fiado?

TOMA !



Já aqui escrevi sobre o buraco financeiro português, que é como quem diz, este buraco ou poço sem fundo em que o nosso Portugal,  á beira mar plantado, se encontra. Esta famosa crise que, não sendo a primeira vivida pelo povo portugês, é certamente a que terá mais e maiores consequências e que se fará sentir por muitos e longos anos. A Europa está pôdre, o Mundo muito doente e não existem médicos ou medicamentos que o salvem assim com duas cantigas.
O governo português caíu mas isso é apenas uma gotinha de água na tempestade, um aparte, até elegerem outro com novas eleições marcadas para 5 de junho, como se estivessemos a nadar em dinheiro, vai-se gastar em eleições mas, isso é mais um aparte, pois se até o país onde é sediado o parlamento Europeu não tem governo há já não sei quantos meses, e aparentemente  isso não aflige  ninguém, também pode Portugal ficar, com um governo provisório, que presumo, provisóriamente, e evidentemente não fará nada, e depois também não, sejam eles de que cor sejam,é  quase como para manter uma tradição e aguçar apostas.
Tal é a pessonha em que se anda, particularmente, desde a nossa entrada na União Europeia e mais tarde com a adesão ao €,chiiiça !
Trouxe boas coisas, trouxe sim senhor, mas não evitou que o nosso povo continuasse a emigrar, não  evitou que se continuasse  a viver do desenrasca, mas com ares de rico, não se educou um povo que viveu em ditadura durante 48 anos, nem se educou sobretudo, os seus governantes que cada vez mais ávidos de poder trocidam tudo e todos em prol das suas vidinhas. Já reparam que há anos que são sempre as mesmas caras (agora viras tu, agora viro eu), mudam só algumas moscas, mas a M...rda é a mesma.
Casa onde não há pão, todos ralham, mas ninguém tem razão !
Eu, quando não tenho batatas, faço arroz, se também não o tenho, faço massa, se não tenho nenhum destes ingredientes, não há acompanhamento pra ninguém e acabou-se! Trata-se de arranjar outra solução ou para se abdicar destes complementos alimentares, ou substitui-los, mas não, os sucessivos governos e sistemas bancários à mistura,deram cartõezinhos de plástico ao nosso povo como moeda, empréstimos a juros astronómicos sem que os seus salários pudessem fazer face,cobrir e acompanhassem as múltiplas inflações,abriram portas e alas a multinacionais sem garantias, sem  futuro,sem clausulas ou contrapartidas, foi tipo , entrem estão nas vossas casas, para que pudessem mais tarde pirarem-se mais fácilmente e deixassem mais desemprego.
Brincaram aos cowboys nas bolsas ( e esta diversão foi um bonús a nível mundial, todo o mundo andou e surfou na onda) e jogaram ao Monopólio, andámos anos, "bué d'anos", quando as coisas começavam a ficar pró mais preto, se é que alguma vez foram branco ou cinzento, a brincar ao Mikado,( tira pauzinho aqui, pauzinho ali) foi fausto até dizer ai, de tal modo que até Luís XIV se fosse vivo, com o seu "paláciozito" de Versalhes sería um triste rei sol  ao compará-lo com os nossos anos de fausto.
Facilitou-se tudo e a todos,  areia prós olhos do povinho que assim ele não dá que o roubam, mas será sempre o mesmo a pagar e a pedir esmola.
Isto não é crise, agora é sufoco,estrangulamento, causa revolta e estou a ferver de raiva, uma raiva de tristeza. Sinto pena das futuras gerações, muita pena.
Foi sempre assim.... pois!
É sempre assim, raras são as vezes que se fala bem de Portugal nas primeiras páginas dos jornais internacionais ou que abrem telejornais com o mesmo ensejo de nos darem vivas, e quando assim acontece, é para ouvir e ver  o que se tem  ouvido e visto, para apresentar esta palhaçada, este circo, onde os palhaços e os bobos da corte são sempre os mesmos.
Entre eleições, o pedes tu e o peço eu, ou ninguém pede  essa dita esmola aos outros países da "União"ou ao FMI, (o fazendeiro da Dilma  já nos mandou dar uma curva, e ver se ele ainda lá estava no sitio do Picapau amarelo) agora, quiçá uma loja dos chineses nos faça fiado?- porque não ?, eles já fazem parte da nossa sociedade há muito, vão há bica e tudo e vêm a telenovela e tudo pá - portanto, vendidos há muito que o estamos, empenhados no prego também, portanto.... ( desconfio, tem é mesmo de ser made in china, porque existem muitas imitações, e isso Deus nos livre, era gato por lebre e seríamos considerados ainda mais falsários e  rascas)- pois, eu sei, soberania e tal, mas isso ainda existe ?- e... podemos come-la, e pagar dividas com ela?- e viver dignamente, como é suposto que se viva num país dito de democrático como Portugal? Gostava, gostava-mos, não é ?- pois é.
Certo é que, há muito que nos passamos dos carretos mas acho que é desta que vamos pró galheiro !

P'ra aliviar este post, transcrevo-vos um poema da autoria de Jorge Sousa Braga (http://www.infopedia.pt/$jorge-de-sousa-braga), poeta e médico português, escrito,suponho,quando ele tinha vinte e dois anos, tem agora quase 54 anos. Este poema faz parte de um livro com o titulo : "Cem poemas portugueses, sobre Portugal e o mar", uma obra que pretende ser um livro sobre o Portugal de hoje e o Portugal de sempre. (Ed.Terramar)


PORTUGAL
Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes
fazes-me sentir
Como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse
combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença
que lhe atacava os orgãos genitais
e nunca mais voltasse.
Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante
D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
( que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o Velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
à parte o facto de agora me tentar convencer que nos espera
um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar
uma pétala que fosse das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce, que
os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer
à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me ?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete,
Salazar
estava no poder, nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram, nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas
a nado na piscina municipal de Braga
ía agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fossemos todos a Ceuta à procura do olho que
Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos ?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca./

(fotografía na net: Zé Povinho,  barro de Rafael Bordalo Pinheiro)

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